Tom Van der Heyden, Professor, OBS Business School
07/04/2025Esperavam-se medidas consideráveis, mas tanto os 'amigos' como os 'inimigos' dos EUA (ou 'friend or foe', como disse o próprio Presidente) ficaram perplexos com a amplitude e a força das tarifas que estão a ser introduzidas. Trata-se, essencialmente, de mais uma fase da redefinição do sistema geopolítico e comercial global iniciada pela Casa Branca, que está a abalar um status quo que muitos, amigos e inimigos, consideravam garantido. Como reagirão esses mesmos amigos e inimigos a este choque sistémico?
Basicamente, a Europa tem duas opções: falar ou retaliar. Falar no calor do momento, e com um interlocutor que é imprevisível e muito concentrado apenas no seu ponto de vista, parece fazer pouco sentido a curto prazo, pelo que não há outra opção senão retaliar, mesmo que isso aumente os danos económicos já criados pelas tarifas. A Europa tem músculo e é poderosa, especialmente se se aliar a países como a Suíça, o Reino Unido e outros à sua volta com quem partilha valores fundamentais, mas tem de acreditar nisso. A Europa não é omnipotente, quase não tem matérias-primas ou recursos energéticos, mas tem muitas outras coisas que também são importantes: um maior número de consumidores do que os EUA, vários setores muito fortes, como o farmacêutico, o alimentar e o automóvel, e uma moeda única relevante. Por conseguinte, são necessárias medidas bem direcionadas, bem como uma posição firme. E os dirigentes europeus não devem deixar-se abalar pelas mais do que previsíveis duras reações dos Estados Unidos.
E a China? Acaba de reagir com a aplicação de direitos aduaneiros de 34% sobre os produtos americanos, apesar de Xi Jinping ter já muitas preocupações, nomeadamente um mercado local que sofre há dois anos uma quebra de confiança dos consumidores e uma crise imobiliária que não tem solução fácil nem imediata, embora tenha também vários ases na manga. Desde há dois meses e meio, as iniciativas geopolíticas da administração Trump destruíram completamente o histórico soft power dos EUA, ao qual a China reagiu com uma campanha quase carismática. Mas a China também tem uma indústria mais poderosa do que nunca, que pode virar-se contra os 90% da população mundial que não a vê como um inimigo.
Os tempos são difíceis porque as tarifas e o conflito comercial que Donald Trump quis desencadear vão afetar todos, sem exceção. Mas é possível gerir este conflito, sobretudo se a Europa e a China reagirem com inteligência.
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