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A (in)sustentável Inteligência Artificial

Ana Pires, doutorada em Engenharia do Ambiente, CEO da Dimera

06/03/2025
A Inteligência Artificial (IA) emerge como uma das mais revolucionárias tecnologias do século XXI. Através da utilização de algoritmos avançados e da análise de grandes volumes de dados (big data), a IA capacita máquinas e programas a aprender, adaptar-se e desempenhar funções de modo automatizado e eficiente. Este avanço tecnológico tem sido crucial na tomada de decisões complexas, transformando diversos setores da sociedade.
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No que concerne aos desafios da sustentabilidade, a IA tem desempenhado um papel fundamental. Ela é utilizada para prever o consumo de energia, permitindo que as empresas planeiem e otimizem o seu uso, reduzindo picos e custos associados. Já existem sistemas de automação em edifícios que empregam a IA para controlar o consumo de energia em tempo real, ajustando a iluminação, aquecimento e arrefecimento conforme as condições ambientais e de ocupação. Adicionalmente, a IA encontra aplicações na gestão de recursos hídricos e na reciclagem de resíduos.

No entanto, a crescente utilização de IA para acelerar esforços e encontrar soluções para desafios comuns requer a análise dos impactes ambientais da IA e das subáreas, assim como das preocupações éticas. No artigo publicado na revista Nature India, Banipal e Mazumder (2024) referem que, caso a IA generativa fosse usada diariamente por todos os habitantes do planeta, a pegada de carbono anual total poderia atingir cerca de 47 milhões de toneladas de CO2eq, contribuindo para um aumento de 0,12 % nas emissões globais.

Mas os impactes ambientais não são apenas o aquecimento global. Também a pegada hídrica é um problema a ser considerado. A água que é consumida para arrefecer os centros de processamento de dados (data centres) que alojam os modelos de IA não pode ser reutilizada. No artigo de Li et al. (2023), foi quantificada a quantidade de água consumida por large language models (LLM) como o ChatGPT. Os autores estimaram que eram consumidos 500 mL de água por cada 20-50 consultas, sendo a água perdida diretamente por duas vias: evaporação, devido ao calor, e a descarga de água, à medida que o hardware dos centros de processamento de dados é arrefecido. Indiretamente, também ocorre o consumo de água, nomeadamente pela produção de eletricidade necessária para os centros de processamento de dados funcionarem. Se forem realizadas 105 mil milhões de solicitações diárias, tal corresponde a 383 mil milhões de litros num ano. Este montante é equivalente a sustentar a ingestão anual de água de 328 milhões de pessoas (Li et al., 2023).

Ana Pires, doutorada em Engenharia do Ambiente, CEO da Dimera
Ana Pires, doutorada em Engenharia do Ambiente, CEO da Dimera.

Para além da pegada do carbono, a IA é responsável pela elevada produção de resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos (REEE). Os centros de processamento de dados têm necessidade de renovar os seus equipamentos com alguma periodicidade, o que obriga à substituição por equipamentos novos e ao encaminhamento dos resíduos produzidos para reciclagem ou aterro. Segundo Wang et al. (2024), os REEE podem alcançar entre 1,2 a 5 milhões de toneladas durante 2020-2030, podendo a quantidade aumentar devido à rápida rotatividade de servidores para reduzir os custos operacionais. Também a área de solo que ocupam é considerável, o que pode impactar a biodiversidade existente na região onde se encontram.

O contributo da IA para a vida dos cidadãos também é bastante promissor em vários domínios como a saúde, as finanças e a educação, apenas para referir alguns. No entanto, as preocupações com potenciais efeitos adversos têm suscitado perspetivas divergentes, que vão desde os riscos para a privacidade até à crescente desigualdade social. Paes et al. (2023) apontaram como possíveis impactes sociais o receio da IA retirar postos de trabalho nas áreas do comércio, indústria e transportes. Rakwski e Kowaliková (2024) salientaram que o uso da IA tem impactes sociais e políticos, nomeadamente as alterações no poder político através da cultura política, que podem fortalecer ou enfraquecer as posições dos governos, das empresas, da sociedade civil e dos indivíduos. Além disso, há uma mudança na estrutura social, à medida que a tecnologia digital altera o modo como as pessoas comunicam com a sociedade, alterando-se os valores sociais, pois as tecnologias digitais influenciam a perceção e a avaliação do mundo que nos rodeia (Rakwski e Kowaliková, 2024).

A IA terá de fazer um caminho para ser mais sustentável, e esse caminho passa por olhar para ela própria e encontrar soluções. A chamada computação sustentável (sustainable computing) já está a dar os primeiros passos e, com a ajuda da IA, poderá alcançar práticas ambientais e sociais cada vez mais responsáveis. A mitigação da pegada de carbono pode passar por modelos de IA eficazes que não necessitem de dados extensos. Também a mudança das operações de IA para centros de processamento de dados com eficiência energética ajudará a reduzir a pegada de carbono e a pegada hídrica. A reutilização e reciclagem da água nesses centros poderão, igualmente, diminuir o consumo de água potável. No que concerne os REEE, a redução da sua produção deve passar por estratégias de Economia Circular ao longo da cadeia de valor e pela gestão proativa dos equipamentos. Já os impactes sociais necessitam de ser minimizados, sendo apontado por diversos organismos a regulamentação das tecnologias digitais, o apoio à sociedade civil e a educação do público.

Referências

Banipal, I. S. & Mazumder, S. (2024) How to make AI sustainable. Nat India. doi.org/10.1038/d44151-024-00024-8

Li, P., Yang, J., Islam, M. A. & Ren, S. (2023) Making AI less “thirsty”’: Uncovering and addressing the secret water footprint of AI models. ArXiv abs/2304.03271

Paes, V.M., Silveira, F.F. & Munhoz, A.C.S.A. (2023) Negative Social Impacts of Artificial Intelligence and the Main Mitigation Actions: A Systematic Review. In: Pereira, L., Krus, P., Klofsten, M. (eds) Proceedings of IDEAS 2022. IDEAS 2022. Design Science and Innovation. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-031-29129-6_3

Rakowski, R. & Kowaliková, P. (2024) The political and social contradictions of the human and online environment in the context of artificial intelligence applications. Humanit Soc Sci Commun 11, 289. https://doi.org/10.1057/s41599-024-02725-y

Wang, P., Zhang, L.-Y., Tzachor, A. & Chen, W.-Q. (2024) E-waste challenges of generative artificial intelligence. Nat Comput Sci 4, 818–823. https://doi.org/10.1038/s43588-024-00712-6

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