Contudo, apesar de a automatização da produção ser globalmente aceite, algumas empresas estão a ficar para trás. Um relatório de 2023 do 'Manufacturing Technology Centre' revelou que a hesitação dos fabricantes no Reino Unido em investir em automatização e robótica tem tido um impacto notável nos recentes ganhos de produtividade do país.
Além disso, nos EUA, os erros de produtos associados a processos manuais ineficientes continuam a revelar-se um problema: em 2023, os alergénios não declarados por erros na etiquetagem estiveram na origem de metade de todas as recolhas de alimentos e bebidas nos EUA.
Afinal, qual é a relutância em adotar a automatização no fabrico? Adem Kulauzovic, diretor de automatização da Domino Printing Sciences, revela sete preocupações críticas em torno da adoção da automatização da fábrica e explica porque é que, se ainda está a atrasar o seu trajeto na automatização, o momento de avançar é agora.
Não vamos ignorar o esqueleto no armário: os processos manuais desatualizados, incluindo a introdução manual de dados, conduzem a um volume substancial de erros, desperdício e custos desnecessários.
A taxa média de erros na introdução manual de dados é de cerca de 1%. Se tiver trabalhadores numa linha de produção a introduzir dados manualmente, não demorará muito até que um erro chegue aos seus produtos. Além disso, se depender de processos manuais para o controlo de qualidade, muito provavelmente o erro só será detetado depois de ter causado muito desperdício.
Pior ainda, se um erro de etiquetagem de um produto entrar na cadeia de abastecimento, o custo e o desperdício envolvidos são ainda mais graves, com o custo médio de uma recolha de produto a ascender a 10 milhões de dólares, já para não falar no efeito prejudicial que uma recolha de produto pode ter na imagem da marca.
Se a automatização puder contribuir para mitigar este risco, atenuando nem que seja uma fração desses erros, não é certamente desnecessária.
Um argumento comum contra a automatização é o facto de a imprevisibilidade de algumas empresas tornar impossível a sua implementação.
Por exemplo, os embaladores por contrato, que fazem a gestão e etiquetam produtos para várias marcas, lidam com inúmeras trocas de produtos por dia e precisam frequentemente de aumentar ou diminuir a produção para gerir as mudanças sazonais de produtividade. Muitas empresas acreditam que este nível de imprevisibilidade é demasiado difícil de gerir com a automatização. Na realidade, é exatamente o contrário.
Soluções automatizadas simples podem substituir a necessidade de introdução manual de dados. Um leitor de códigos de barras consegue preencher automaticamente as etiquetas dos produtos com base nas ordens de produção existentes, e as impressoras podem ser configuradas para preencher modelos de etiquetas a partir de uma base de dados central.
Para simplificar ainda mais, numa instalação com várias linhas de produção, o software de automatização da codificação permitirá aos colaboradores da linha de produção ligar as impressoras em rede e preencher automaticamente os dados da etiqueta do produto a partir de uma localização central, como um escritório de produção, SCADA, sistema ERP ou MES. Estas medidas podem ser conjugadas com soluções automatizadas de visualização por máquinas para controlo de qualidade em tempo real.
Sim, há tarefas específicas, como a criação de códigos e a introdução de dados, que são mais adequadas à automatização do que a uma abordagem manual. No entanto, trata-se muitas vezes de funções de nível básico, cada vez mais difíceis de preencher.
A indústria transformadora está a sofrer com a falta de mão de obra. Um relatório recente da Deloitte e do Manufacturing Institute sugere que só a indústria transformadora dos EUA pode precisar de até 3,8 milhões de novas funções até 2033, sendo que potencialmente 1,9 milhões ficarão por preencher.
O verdadeiro papel da robótica e da automatização na indústria transformadora não passa pela substituição, mas sim pela complementaridade. Ao assumir tarefas rotineiras, aborrecidas ou perigosas, a automatização liberta tempo e espaço para que uma força de trabalho sobrecarregada se concentre em tarefas de valor acrescentado, nomeadamente o planeamento estratégico e a implementação de projetos.
É um equívoco comum pensar que a automatização só está acessível a grandes empresas com acesso a capital e competências.
Isto é simplesmente falso. As PME podem automatizar tarefas rotineiras e pouco qualificadas, como a introdução manual de dados, para utilizar a sua mão de obra limitada de forma mais eficaz. Não está convencido? Nesse caso, pense que, para as pequenas empresas, as consequências de um fracasso são bastante mais elevadas do que para as grandes empresas, e uma recolha de um produto no valor de 10 milhões de dólares pode significar a sua ruína financeira.
De acordo com o 'Industry Insights Survey 2024 da Automate UK', o custo é o maior entrave para a adoção da automatização.
Embora o custo da implementação possa ter sido uma preocupação válida no passado, a realidade atual é bastante diferente. Os benefícios em termos de redução de custos e riscos estão a tornar-se cada vez mais evidentes e as soluções são mais acessíveis do que nunca.
De acordo com a EY, o preço médio de um robô industrial caiu para metade na última década e espera-se que continue a diminuir. Além disso, quem investe na automatização pode esperar poupar dinheiro em despesas operacionais: um inquérito recente da Bain constatou que as empresas que afetaram pelo menos 20% do seu orçamento de TI à automatização nos últimos dois anos obtiveram uma poupança média de 22%.
Se a questão do custo continuar a ser uma preocupação, muitos fornecedores oferecem agora modelos opex em vez de capex, com planos de financiamento e contratos flexíveis que tornam a adoção mais acessível para as pequenas empresas. Além disso, se realizar pequenas alterações incrementais ao longo do tempo, será mais fácil repartir os custos e fornecer a justificação necessária para novos investimentos.
A automatização não é um compromisso de 'tudo ou nada'. As empresas podem começar por identificar uma área em que a automatização possa resolver problemas específicos de produção ou melhorar um ponto específico do ciclo de produção.
Para muitas empresas, uma vitória rápida passa por simplificar as trocas de produtos. Por exemplo, pode implementar uma solução de monitorização automatizada para fornecer uma contagem de produtos em tempo real e alertas correspondentes para informar os colaboradores do setor de produção quando uma tiragem está a terminar, permitindo que se preparem com antecedência.
É uma mudança simples, mas está comprovado que a redução do tempo de troca liberta capacidades para tiragens adicionais de produção diárias. A melhoria do desempenho e o retorno do investimento resultantes da automatização de um único processo justificarão rapidamente a realização de investimentos adicionais mais tarde.
Um último equívoco comum sobre a automatização é a ideia de que são precisas competências internas para gerir a transição. Muitos fornecedores de processos de automatização oferecem serviços que tratam das readaptações e implementações. Uma vez implementados, os sistemas automatizados exigem habitualmente menos competências internas para funcionarem eficientemente. Deste modo, as empresas podem redistribuir o trabalho manual e libertar tempo e capacidades para tarefas de valor acrescentado, um benefício que também tornará a sua empresa mais atrativa junto de futuros colaboradores.
As ideias erradas e as preocupações que os fabricantes têm sobre a adoção da automatização persistem. No entanto, tendo em conta os benefícios financeiros e a crescente disponibilidade e vontade dos parceiros de automatização em ajudar a financiar e implementar novas soluções, a verdadeira questão é: pode dar-se ao luxo de não adotar a automatização da fábrica?
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