Informação profissional para a indústria metalomecânica portuguesa
Entrevista com Teresa Neves, cofundadora da Simulflow

“Ao longo de 20 anos, construímos uma imagem consistente de competência, saber-fazer e qualidade”

Luísa Santos30/09/2024

2024 marca duas décadas de vida da Simulflow, empresa leiriense representante em Portugal e Espanha do Moldex 3D, o mais famoso software de simulação de injeção de plásticos. Em entrevista à InterPlast, Teresa Neves, cofundadora da empresa, recorda um percurso marcado pela consistência e reconhecido pela própria representada que, no ano passado, lhe atribuiu o prémio ‘Parceiro Platina Moldex3D 2023’.

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Começo por lhe pedir que nos conte um pouco da história da Simulflow. Como é que começou esta aventura com o Moldex3D e como avalia o percurso da empresa ao longo destas duas décadas?

O meu primeiro encontro com o Moldex3D aconteceu em Francoforte, na Euromold, no outono de 2000. Ao passar diante de um stand, recebi um prospeto do Moldex3D, que era à época totalmente desconhecido na Europa. Mal sabia eu que aquele momento iria decidir a minha vida profissional futura.

Com um percurso profissional já consolidado, no final desse mesmo ano tomei a decisão de criar a minha própria empresa de serviços de engenharia. Nessa época, insatisfeita com o apoio do fornecedor de software que sempre tinha utilizado, por um lado, e com o seu custo, por outro, tive necessidade de avaliar outras alternativas. O tal desconhecido Moldex3D revelou-se uma hipótese a equacionar, mas a decisão não foi imediata, já que não havia referências no mercado e aquele encontro na feira foi insuficiente para perceber exatamente de que se tratava.

Por isso, e após grande reflexão, decidi ir a Taiwan em março de 2001 para ter formação e ficar a conhecer tanto o software como a Coretech, a empresa que o desenvolve. No final faria a avaliação e tomaria a decisão. Foi assim que, ainda lá, me decidi pela aquisição.

No começo desta aventura o projeto passava apenas pela consultoria. No entanto, três anos depois, no início de 2004, percebemos que os nossos clientes da indústria de moldes e plásticos estavam cada vez mais interessados em adquirir o software e não apenas o serviço. Por isso, decidimos dar o passo seguinte e assumir a representação do Moldex3D, respondendo ao desafio que a Coretech já nos havia lançado. E foi desta forma que nasceu a Simulflow, para representar o Moldex3D e prestar assistência técnica.

Claro que os primeiros anos foram bastante trabalhosos, porque foi necessário um esforço acrescido para dar a conhecer um software que não era utilizado na Europa. Mas, com o tempo, as empresas perceberam as potencialidades desta ferramenta e reconheceram-na como uma alternativa válida.

Entretanto, em junho de 2017, já a Simulflow estava consolidada como fornecedora do software e formadora, passámos a representar em Portugal a tecnologia para injeção microcelular de plásticos Mucell, desenvolvida pela Trexel, dos EUA. E no ano seguinte estabelecemos uma parceria com a BIMS Seminars de Vito Leo, da Bélgica, para formação em injeção de termoplásticos de alta qualidade em Portugal.

Em suma, eu diria que, ao longo destes 20 anos fomos construindo uma imagem consistente de competência, de saber-fazer e de qualidade e hoje posso afirmar que somos uma referência em soluções de engenharia de excelência, assegurando o melhor suporte técnico e garantindo ainda formação de elevada qualidade.

Que caraterísticas diferenciam o Moldex3D das alternativas concorrentes?

Um dos pontos mais importantes num software de simulação é a sua capacidade de gerar as malhas de elementos finitos, a partir das quais são efetuados os cálculos.

A sua enorme evolução, quer na parte do pré-processamento – que, na minha opinião, é a principal vantagem do Moldex3D -, quer nas aplicações de simulação dos processos avançados de moldagem (injeção a água, injeção a gás, espumas físicas ou químicas) tornou-o numa referência mundial.

Das malhas “casca” passámos pelas malhas híbridas sólidas e depois voxel. Quando surgiu a poderosa construção da malha BLM (do inglês boundary layer mesh, i.e., malhas de camada limite) deu-se um salto tecnológico muito inovador na simulação tridimensional. O Moldex3D foi pioneiro e está na vanguarda da utilização deste tipo de malha sólida verdadeira.

Que vantagens têm os vossos clientes ao utilizar esta solução?

A grande vantagem é a de poderem usar um software avançado, com diversos processos de moldagem, com malha sólida real, que está em constante evolução graças ao trabalho permanente de investigação e desenvolvimento. E, não menos importante, a qualidade, proximidade e celeridade do apoio prestado pela Simulflow.

A área de atuação geográfica da Simulflow estende-se também a Espanha. Como é trabalhar este mercado? Quais são as principais diferenças em relação ao mercado nacional?

O mercado em Espanha apresenta complexidade por diversas razões, sendo a primeira o protecionismo implícito. A segunda razão prende-se com o facto de, paradoxalmente, muitas PME espanholas dos setores dos moldes e da injeção de termoplásticos evidenciarem menor abertura à inovação, pelo menos no que toca a estas tecnologias e serviços de engenharia.

“Para nós, o mais desafiante é contribuir sistematicamente para a evolução do Moldex3D e garantir a alta qualidade do apoio técnico que prestamos”

Abrangem também outros mercados?

No caso do Mucell a nossa representação é exclusivamente para o território nacional. No caso do Moldex3D, a representação abrange toda a Península ibérica. No entanto, neste caso, mas por expressa solicitação de uma empresa, operamos excecionalmente na Suécia.

Como caracteriza a vossa carteira de clientes, nacionais e internacionais, por setores?

A maioria dos nossos clientes está na indústria de moldes para plásticos, detendo vários também unidades de produção de peças. Os nossos maiores clientes são produtores de peças em plástico para a indústria automóvel.

Precisamente, as empresas que trabalham para a indústria automóvel atravessam um período difícil. Como é que os vossos clientes estão a enfrentar esta fase?

De facto, estamos a viver momentos atribulados e muito desafiantes na indústria automóvel na Europa. Agora mesmo o Grupo Volkswagen anuncia a possibilidade de encerrar, pela primeira vez na sua existência, fábricas na Alemanha por perda de competitividade. Isto, naturalmente, reflete-se nos nossos clientes, nuns casos com menos intensidade, noutros com mais. As realidades são diversas, mas em geral todos estão, ou melhor, todos estamos a envidar esforços para conseguir chegar a bom porto neste mar encapelado.

O Moldex3D é líder mundial em tecnologia 3D real para o projeto e otimização de processos de moldagem de peças de plástico...
O Moldex3D é líder mundial em tecnologia 3D real para o projeto e otimização de processos de moldagem de peças de plástico.

As mudanças neste setor, nomeadamente com o aumento dos modelos elétricos, traduzem-se, por exemplo, numa crescente procura por peças leves, mas resistentes. A tecnologia de injeção microcelular de plásticos Mucell surge como uma boa opção de fabrico. Que características/vantagens desta solução gostaria de destacar?

Esta é uma tecnologia que consiste na injeção duma solução de plástico com gás liquefeito. Quando esta solução se encontra dentro do molde, o gás vaporiza criando uma estrutura do plástico porosa. Esta vaporização funciona com a pressão de compactação expandindo o material e compactando-o, pelo que é eliminada esta fase durante o processo de moldagem.

Os benefícios estão ao nível da redução do peso, da força de fecho, dos empenos das peças e do tempo de ciclo.

Em Portugal, as empresas têm vindo a adotar esta tecnologia?

Sim, tem havido um interesse crescente e já há vários equipamentos instalados.

É uma solução com potencial para outras aplicações?

Sim, e em Portugal já é utilizada para outras aplicações. Estou a lembrar-me, por exemplo, de aplicações muito interessantes no setor do calçado, que permitem melhorar bastante o conforto do utilizador. Além disso, é uma solução que também pode ser utilizada na produção de peças de embalagem.

Além do automóvel, existem outros segmentos cliente com potencial para alavancar os negócios das empresas nacionais?

Temos a opinião de que, nesta matéria, a Cefamol tem vindo a realizar um grande e muito relevante trabalho no sentido de diversificar e ampliar os setores e mercados para a indústria de moldes. Trabalho que é necessário prosseguir e que deveria merecer dos vários governos mais atenção e apoio.

A utilização de reciclado, ou de novos materiais como os bioplásticos, traz novos desafios à indústria, nomeadamente no que respeita ao comportamento dos materiais durante o processo de injeção. Neste contexto, é ainda mais importante contar com uma boa ferramenta de simulação, correto?

Realmente, a utilização desses materiais coloca um novo desafio à simulação sobretudo ao nível da caracterização dos materiais. A empresa que desenvolve o Moldex3D possui um laboratório para essa caracterização, o que lhe permite dar resposta a essa necessidade sem depender de terceiros.

Existem outros desafios que as vossas soluções possam ajudar a ultrapassar?

A eliminação ou redução de tarefas repetitivas é, em todas as áreas de atividade, um objetivo para aumentar a produtividade e a eficiência e tornar mais apelativo o trabalho. Os mais recentes desenvolvimentos do Moldex3D, respondendo a esta necessidade, vão no sentido de automatizar tarefas repetitivas durante o trabalho preparatório de simulação, reduzindo o tempo de execução, permitindo criar todo o processo de simulação duma forma automática.

Quando se realizam muitos estudos, acumula-se ano após ano muito informação plena de saber-fazer e conhecimento em geral, útil para múltiplos casos que hão de vir a ocorrer. Gerir e consultar essa informação com celeridade é fator de enorme importância para o aumento da eficácia e da eficiência do trabalho. Por isso foi desenvolvida uma solução para a gestão das simulações, o iSLM (do inglês Intelligent Simualiton Lifecycle Managemetn, i.e., Sistema de Gestão Inteligente de Ciclo de Vida), para ajudar a acumular o saber-fazer dos projetos e as experiências de moldagem e transformar estes bens digitais numa valiosa base de conhecimentos e informação

A formação é uma parte importante da vossa atividade? Em que medida?

A formação é inerente à venda dos produtos que representamos. Temos de formar quadros das empresas clientes e ir atualizando a sua capacitação. Com o crescimento, a Simulflow criou um espaço – a Oficina da Formação – devidamente equipado, destinado fundamentalmente a formação na área da engenharia para moldes e injeção de plásticos.

Além disso, em 2018 estabelecemos uma parceira com a BIMS Seminars da Bélgica para proporcionar formação de elevada qualidade em injeção de termoplásticos e já organizámos diferentes seminários em Portugal.

Para nós, o sucesso da utilização destas ferramentas avançadas não está apenas no software e nas tecnologias, mas reside em boa medida na formação que é dada, no saber-fazer transmitido e na assistência técnica prestada.

Finalmente, vinte anos de atividade contêm, certamente, muitas histórias. Poderia dar-nos um exemplo de um projeto especialmente desafiante em que a Simulflow esteve envolvida?

A confidencialidade não nos permite revelar projetos concretos dos nossos clientes, mas é verdade que nos são colocados com regularidade desafios relativamente a processos avançados de moldagem que nos obrigam a explorar os limites do software. Devo dizer que responder a estes reptos nos dá muito gozo.

Mas talvez possamos afirmar que o mais desafiante é contribuir regular e sistematicamente para a evolução do Moldex3D e garantir a alta qualidade do apoio técnico que prestamos, reconhecido pela própria representada.

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