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Informação profissional para a indústria metalomecânica portuguesa
Entrevista com Paulo Barradas, presidente da Associação Nacional das Empresas Metalúrgicas e Eletromecânicas (ANEME)

“Para crescermos, temos de investir em inovação, manter a estabilidade financeira e responder ao desafio da mão de obra”

Luísa Santos16/09/2024

Paulo Barradas é, desde abril deste ano, o novo presidente da ANEME, uma das associações nacionais que defende os interesses das empresas do setor metalúrgico e eletromecânico. Nesta entrevista à InterMetal, o responsável enumera as prioridades da atual direção, definidas para alavancar a competitividade do setor numa altura em que, diz, “já não basta oferecer um produto de qualidade”.

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Assumiu em abril a presidência da ANEME. Quais são os objetivos e prioridades e do seu mandato?

A grande prioridade deste mandato são os associados. A ANEME, como todas as associações setoriais, existe para servir as empresas que representa. A atual direção definiu um conjunto de grandes linhas de orientação para o seu mandato que vão, precisamente, nesse sentido.

Antes de mais, queremos devolver ao setor a representatividade que a sua função económica e social tem. O nosso setor é um empregador muito relevante de trabalhadores qualificados e tem um peso determinante na economia nacional, nomeadamente pelo elevado volume de exportações. Por todas estas razões, é fundamental que o setor seja ouvido e que sejam consideradas políticas tendentes ao seu crescimento e aumento de competitividade.

Simultaneamente, queremos alinhar as necessidades dos associados com os programas de incentivos ao investimento. É determinante para a competitividade das nossas empresas acelerar os processos de digitalização bem como a transição energética que, no caso das nossas associadas, são processos complexos e altamente dispendiosos.

A inovação é outra das nossas bandeiras. Queremos ser um agente promotor e mediador do esforço dos nossos associados neste aspeto, promovendo as experiências de inovação nas diversas vertentes da gestão da empresa. Só com uma forte aposta em I&D é possível responder aos desafios do nosso tempo.

E, por fim, a internacionalização. O setor que representamos tem uma forte componente de exportação e de contacto com mercados, alguns mais evoluídos que o nosso. Para que esta componente cresça e se transforme, ainda é necessário percorrer um caminho importante. Pensamos que as associações setoriais têm um papel fundamental no apoio às empresas que optam por este desafio.

Como se caracteriza atualmente o setor metalúrgico e eletromecânico nacional?

O setor metalúrgico e eletromecânico português representa uma das principais atividades económicas do país, quer pela sua dimensão em termos do volume de negócios e emprego, quer pelo seu impacte no processo de modernização e desenvolvimento industrial, quer pelo seu caráter transversal no fornecimento dos mais diversos setores de atividade e pela forte contribuição para as exportações nacionais.

O setor enquadra várias fileiras industriais de grande importância, desde as indústrias metalúrgicas de base, à fabricação de produtos metálicos, fabricação, reparação e manutenção de máquinas e equipamentos e fabricação de material de transporte. Tem um peso de cerca de 35% na indústria transformadora nacional, representa 23 mil empresas e emprega 246 mil trabalhadores.

Em 2023, as exportações atingiram o valor de 25.029 milhões de euros, que corresponderam a 32% do total das exportações nacionais e representaram mais de 55% do volume de negócios do setor. Cerca de 75% das exportações destinam-se ao mercado europeu sendo de assinalar que, para Espanha França e Alemanha, se exportam 60% dos produtos do setor. Quanto aos mercados não europeus, temos verificado uma tendência de diversificação, sendo de realçar a importância do peso das exportações para os Estados Unidos da América, Angola, Marrocos e Brasil.

Que vantagens têm as empresas do setor em associarem-se à ANEME?

Eu diria que a principal vantagem é a de poderem contar com uma entidade com quase 65 anos de atividade que os representa e defende os seus interesses junto de instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais. Neste contexto, fornecemos às empresas nossas associadas a necessária consultoria nas mais variadas áreas: laboral, jurídica, fiscal, da qualidade, licenciamento e ambiente.

Por outro lado, definimos como missão estratégica desenvolver os esforços necessários para incrementar a competitividade do setor, aumentar o grau de qualificação dos seus recursos humanos, bem como o seu nível de internacionalização. Neste aspeto, há mais de 30 anos que temos vindo a promover ações nos quatro continentes. Muitas centenas de empresas do setor metalúrgico e eletromecânico escolheram, e continuam a preferir, o apoio da ANEME para abordar os mercados externos. Este traduz-se em iniciativas como missões empresariais, presença em feiras - há mais de 25 anos que participamos regularmente em feiras como a Midest, Hannover Messe, MetalMadrid, FACIM (Moçambique) e FIC (Cabo Verde) -; criação de entidades locais de apoio às empresas, em especial na área da formação; estabelecimento de protocolos e articulação com associações congéneres; bem como realização de estudos de mercado e de levantamento e caracterização das empresas industriais e comerciais.

Assume ainda particular destaque a área da formação profissional, que tem sido uma das vertentes relevantes da nossa atividade. A ANEME é entidade fundadora e membro da Administração do Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica (CENFIM), centro de formação protocolar com 14 núcleos regionais, que tem prestado relevantes serviços ao setor e ao País. Além disso, integramos os dois únicos projetos tripartidos de cooperação portuguesa nesta área: o projeto do Centro de Formação da Metalomecânica de Maputo (Moçambique) e o Centro de Formação Budo-Budo (São Tomé e Príncipe). Estes projetos, nos quais participam também o IEFP e a UGT, pela parte portuguesa, e as suas congéneres, pela parte Moçambicana e São-Tomense, contribuem para qualificar os trabalhadores desses países e apoiar as empresas no seu processo de deslocalização, perspetivando-se ainda a possibilidade da sua absorção pelo mercado interno respondendo à forte carência de mão de obra no setor.

Destaco também o apoio que temos vindo a dar aos nossos associados na transição energética e na digitalização, ambas mudanças sistémicas exigentes, que implicam alterações estruturais nos modelos de negócio e de fabrico. Realizámos vários projetos no âmbito do Compete 2020 que permitiram desenvolver um conjunto de ferramentas para apoiar o setor na construção de uma indústria mais sustentável e competitiva apostando na inovação, na descarbonização, na digitalização, na ecoeficiência e na circularidade. Atualmente, estamos a desenvolver um projeto apoiado pelo PRR para criação de um roteiro de descarbonização para o setor.

Finalmente, importa referir que a ANEME integra a Federação Nacional do Metal (FENAME), que celebra o Contrato Coletivo do setor com vários Sindicatos representativos de trabalhadores do setor. Este CCT é o instrumento de regulamentação coletiva do setor aplicável no território nacional aos trabalhadores não sindicalizados e às empresas não inscritas em associações patronais, por força de Portaria de Extensão emitida pelo Ministério do Trabalho.

Quais são os principais setores clientes dos vossos associados?

Pelo seu caráter transversal, o setor é fornecedor dos mais diversos setores de atividade, da agricultura, à construção civil, indústria extrativa e transformadora (realçando o setor de automóvel) e dos grandes projetos de infraestruturas (comunicação, portuárias, ferroviárias, energéticas etc).

A prolongada instabilidade no mercado automóvel está a afetar os vossos associados? Em que medida?

De facto, a Indústria automóvel atravessa um cenário pouco entusiasmante e de grande instabilidade que afeta todas as indústrias fornecedoras, com especial destaque para as empresas do nosso setor.

Temos uma fileira importante de associados fornecedores de componentes para este segmento, com particular destaque para os fabricantes de moldes, que estão a atravessar uma situação de grandes dificuldades decorrentes da intensa quebra de encomendas já sentida em 2023.

Esta preocupação já foi reportada pela direção da ANEME ao Ministro da Economia em 2023, no sentido de sensibilizar para a necessidade de apoiar esta fileira altamente exportadora, em termos de linhas de crédito e outros apoios, nomeadamente quanto à manutenção de postos de trabalho, de forma a mitigar os efeitos deste cenário de instabilidade que tem caracterizado este mercado.

Em sentido contrário, assistimos a grandes investimentos no setor energético, principalmente em infraestruturas para a produção de energia “limpa”. As empresas portuguesas estão a beneficiar deste bom momento?

Em parte, sim, embora muitos desses investimentos ainda demorem a sair do papel. Convém, no entanto, chamar a atenção para a verdadeira “invasão” de prestadores de serviços estrangeiros no nosso setor, nomeadamente de Espanha, que operam em condições mais competitivas do que as portuguesas.

Neste segmento, quais são os principais destinos geográficos das exportações nacionais?

No segmento de energia, os principais destinos das exportações portuguesas incluem países europeus como Espanha, França e Alemanha, além de mercados em crescimento na América Latina e especialmente em África, onde a procura por infraestrutura energética tem aumentado.

A indústria metalomecânica portuguesa é reconhecida internacionalmente pela qualidade de fabrico. Esse fator ainda é suficiente para manter quota de mercado?

É muito importante, para manter quotas, a imagem e a credibilidade que o setor construiu internacionalmente, mas para crescer no mercado é preciso investir em inovação, manter a estabilidade financeira das empresas e responder ao desafio da mão de obra. Em reposta à sua pergunta, o fator reconhecimento já não é suficiente para manter quotas de mercado.

As atuais prioridades do setor colocam grandes exigências em termos de qualificação da mão de obra, de uso de tecnologias avançadas e de inovação, impondo-se como prioritárias, para além da qualidade, o nível de produtividade e a diferenciação e inovação das soluções.

Impõe-se, assim, um crescente posicionamento no mercado internacional, através de uma oferta mais diferenciada, associada a produtos de elevado valor acrescentado.

Ganhar quota nos mercados internacionais passa por uma maior flexibilidade produtiva, menor time-to-market e uma forte aposta na componente ‘serviço’

De realçar ainda a maior flexibilidade produtiva, time-to-market e componente de serviços, que permita reforçar a customização da oferta, adaptando-a cada vez mais às especificidades do perfil de clientes e disponibilização no mercado de soluções e sistemas mais inovadores e complexos.

Por último, importa destacar, como fator fundamental em termos de posicionamento internacional, a resposta das empresas aos novos desafios da indústria em matéria ambiental, energética e de recursos naturais, através de recurso a tecnologias e procedimentos orientados para a eficiência energética e descarbonização, para a produção de energias limpas e para a redução do desperdício de materiais e, em geral, para uma maior circularidade dos modelos de negócio.

A ANEME lançou em 2023 o selo ‘Trusted Exporter’. Em que consiste este certificado e que vantagens oferece às empresas exportadoras?

A certificação Trusted Exporter foi criada pela ANEME para apoiar o esforço exportador do setor e para disponibilizar um sinal independente de confiança às empresas estrangeiras, uma garantia de que é seguro realizarem negócios com empresas certificadas Trusted Exporter. As empresas reforçam assim a sua capacidade de acesso a novos mercados e de consolidação nos mercados existentes.

A certificação Trusted Exporter é auditada pela Bureau Veritas o que, pela sua presença e reconhecimento a nível internacional, funciona também como mais um fator de crédito e confiança relativamente à empresa que exibe essa certificação.

Os primeiros certificados Trusted Exporter foram entregues em outubro de 2023 a associados da ANEME.

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A falta de mão de obra é transversal a toda a indústria e considerado por muitos o principal entrave ao crescimento da economia nacional. Como é que as empresas que a ANEME representa estão a enfrentar esta escassez? Considera que a automatização e digitalização, por exemplo, podem ajudar as empresas a atrair mais jovens?

O processo de rarefação do mercado de trabalho qualificado começou no período pós-pandemia e rapidamente se instalou na vida das empresas. Este processo galopante põe em causa mais do que a competitividade das empresas, na realidade questiona a sua própria sobrevivência!

No nosso setor, devido ao elevado grau de especialização e qualificação da mão de obra, a situação é particularmente grave e tem um enorme potencial de destruição de valor. Este é, provavelmente, “o desafio” de sobrevivência para os nossos associados nos próximos anos.

Não há uma solução miraculosa. O inverno demográfico, o equilíbrio do fluxo migratório, os desafios de um espaço Schengen, carente como está de trabalhadores qualificados a todos os níveis ou o contexto fiscal, são condicionantes que não se resolvem de um dia para o outro, nem sequer num prazo útil.

Existem, na nossa visão, algumas oportunidades que passam exatamente pela qualificação de uma nova geração de profissionais, num contexto de digitalização e de inovação nos processos produtivos. A “pedra de toque” para esta revolução é exatamente o fator humano e a capacidade de investimento das empresas. Este último fator, no contexto atual, é um enorme desafio para as empresas.

Quanto ao fator humano, a ANEME vê oportunidades também na capacidade de estimular a imigração de trabalhadores qualificados de várias proveniências, nomeadamente os países de língua portuguesa. Este processo pode e deve ser feito em coordenação com as diversas entidades públicas com esta tutela, mas também com centros de formação e autoridades locais. As recentes alterações da legislação nacional, se bem implementadas, podem ser um passo em frente muito significativo.

Os vossos associados têm vindo a investir neste sentido?

Temos a perceção de que há um esforço, até por vezes desproporcional ao porte das empresas, para qualificar e desenvolver as competências dos colaboradores. Todavia, num contexto de rarefação de mão de obra, a retenção torna-se por vezes extremamente difícil, o que leva ao insucesso de muitos programas de atração e capacitação de jovens. O estado pode ter aqui um papel fundamental através do IEFP, direcionando a oferta de formação de jovens para setores com dinâmicas de crescimento e alta especialização como o nosso.

A formação é, igualmente, uma aposta da ANEME?

A formação profissional e a capacitação dos recursos humanos do setor, de uma forma geral, tem sido uma aposta estratégica da direção da ANEME ao longo da sua existência.

São desenvolvidas anualmente ações de capacitação dirigidas às empresas associadas, quer numa ótica de informação sobre alterações legislativas, quer numa perspetiva de preparação e sensibilização para os vários desafios que se colocam ao setor, destacando atualmente a área digital, ambiental, energética, de sustentabilidade e de internacionalização.

A formação profissional é garantida pelo Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica (CENFIM), o nosso centro de formação protocolar, que como já referi, tem 14 núcleos regionais, sendo o maior centro de formação protocolar nacional e desenvolvendo um serviço de excelência para as empresas do setor.

O Roteiro para a Descarbonização da Indústria Metalúrgica e Eletromecânica tem também a chancela da ANEME. Em que fase está esta agenda? As empresas nacionais estão a tomar as medidas nacionais para atingir os objetivos de 2050? Neste contexto, quais são os principais entraves?

Como já referi, a ANEME está a desenvolver atualmente um projeto, apoiado no quadro do PRR, de criação de um Roteiro de Descarbonização para o setor Eletromecânico, que irá permitir identificar soluções tecnológicas inovadoras, eficazes e específicas para o setor, na estratégia subjacente ao cumprimento das metas identificadas no Roteiro para Neutralidade Carbónica 2050 e no PNEC.

Está neste momento em fase de conclusão o desenvolvimento de uma ferramenta, denominada ToolKit Digital, que irá permitir medir o potencial de descarbonização por parte das empresas, designadamente quanto à contabilização de emissões de GEE.

No âmbito deste projeto, irão iniciar-se em outubro ações de capacitação das empresas, através da realização de workshops e ações de formação dirigidas aos empresários e quadros técnicos, que visam dotar os participantes dos conhecimentos associados à temática da descarbonização, ao nível dos conceitos teóricos sobre os processos, tecnologias e impactos na redução de emissões de GEE.

A maioria das empresas nacionais está bastante atenta ao roteiro da descarbonização, mas trata-se de um processo gradual que inevitavelmente impacta a sua atividade.

O investimento é essencial, especialmente quando aliado à necessidade de manter, ou até aumentar, a competitividade do setor.

O contexto atual da economia portuguesa, no entanto, não é o mais favorável para as empresas. Os elevados custos de contexto, o quadro fiscal exigente e a posição periférica de Portugal limitam significativamente o espaço para investimentos e processos de inovação bem-sucedidos.

A ANEME tem previstas outras iniciativas de dinamização do setor?

Sim, a ANEME tem várias iniciativas planeadas para continuar a dinamizar o setor. Estamos focados em promover a modernização e a competitividade das empresas através de ações de formação, inovação tecnológica e apoio à internacionalização. Além disso, temos vindo a trabalhar em estreita colaboração com o Governo e outras entidades para assegurar que o setor se adapta às novas exigências ambientais e digitais e de sustentabilidade, sempre com o objetivo de fortalecer a indústria metalúrgica e eletromecânica no mercado nacional e internacional.

O foco desta direção é a aproximação aos sócios e o apoio incondicional na resolução das suas dificuldades!

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