Carolina Feliciana Machado, Professora Associada com Agregação na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho (carolina@eeg.uminho.pt)
J. Paulo Davim, Professor Catedrático no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro (pdavim@ua.pt)
06/09/2024A Indústria 5.0 surge como uma evolução natural da Indústria 4.0, que se centrou na automação, digitalização e conetividade. A nova era industrial destaca a colaboração entre o Homem e a máquina, promovendo um equilíbrio entre a tecnologia avançada e o toque humano, com um forte compromisso com a sustentabilidade. Este breve artigo de opinião procura explorar os pilares da Indústria 5.0, com ênfase para a interação que se faz sentir entre a vertente humana, a tecnologia e a sustentabilidade.
Nos últimos anos, a revolução digital transformou profundamente a paisagem industrial através da Indústria 4.0, caracterizada pela integração de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), Big Data, Inteligência Artificial (IA) e automação avançada. No entanto, à medida que a quarta revolução industrial amadurece, surge um novo paradigma: a Indústria 5.0. Este novo conceito não apenas amplia os avanços tecnológicos da Indústria 4.0, como também enfatiza a necessidade de uma abordagem mais humanocêntrica e sustentável.
A Indústria 5.0 destaca a colaboração sinérgica entre o Homem e as máquinas, onde a tecnologia não substitui os trabalhadores, mas, antes, complementa e potencializa as suas capacidades. O foco desloca-se da mera eficiência operacional para a criação de valor através da personalização, inovação e sustentabilidade. Nesta nova era, as empresas não procuram apenas maximizar a produtividade e o lucro, mas também consideram o impacto social e ambiental das suas operações.
Este artigo de opinião procura explorar, de forma breve, os três pilares fundamentais da Indústria 5.0: pessoas, tecnologia e sustentabilidade. Num contexto caracterizado por profundas mutações onde as inovações no campo da IA, IoT, robótica colaborativa (cobots), realidade aumentada (AR), realidade virtual (VR) e blockchain estão a revolucionar todo o setor industrial, a interação entre pessoas, tecnologia e sustentabilidade assume um papel crucial. Pela relevância que assumem, pretendemos, neste artigo, discutir de que forma estas tecnologias estão a ser utilizadas para promover práticas mais sustentáveis, bem como de que modo a integração humana na indústria está a ser revalorizada.
À medida que navegamos por esta nova fronteira, torna-se evidente que a Indústria 5.0 não é apenas uma evolução tecnológica, mas uma transformação paradigmática que redefine o papel da tecnologia no contexto industrial. Esta transformação procura não apenas melhorar a eficiência e a flexibilidade dos processos produtivos, mas também criar um ambiente de trabalho mais inclusivo e uma economia mais sustentável. A Indústria 5.0 representa, assim, um passo significativo em direção a um futuro onde a tecnologia e a humanidade evoluem conjuntamente de maneira harmoniosa e benéfica para todos.
Na Indústria 5.0, o papel das pessoas é fundamental. A colaboração entre o Homem e os robôs (cobots) visa criar um ambiente de trabalho mais eficiente e personalizado. Os trabalhadores são valorizados pela sua criatividade, habilidades cognitivas e capacidade de tomar decisões complexas. Esta integração permite que as tarefas rotineiras e monótonas sejam automatizadas, enquanto os trabalhadores se concentram em funções mais estratégicas e inovadoras. A formação contínua e o desenvolvimento de competências digitais tornam-se essenciais para preparar a força de trabalho para esta nova realidade.
A tecnologia é um ponto central da Indústria 5.0. Diferentes inovações tecnológicas são implementadas para facilitar a colaboração entre o Homem e as máquinas, melhorar a eficiência e promover a sustentabilidade. Entre as principais tecnologias podemos destacar:
1. Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning (ML)
A IA e o ML são fundamentais para a personalização e automatização inteligente dos processos. Elas permitem que as máquinas e os sistemas aprendam e se adaptem com base em dados históricos, melhorando continuamente a sua performance. Na Indústria 5.0, a IA é usada para analisar grandes volumes de dados em tempo real, prever falhas, otimizar a produção e personalizar produtos de acordo com as necessidades dos consumidores.
2. Internet das Coisas (IoT)
A IoT relaciona dispositivos e sistemas, permitindo a troca de informações e a coordenação de ações em tempo real. Sensores IoT são amplamente utilizados para monitorizar as condições dos equipamentos, garantir a qualidade do produto e otimizar o uso de recursos. A conetividade proporcionada pela IoT melhora a transparência e a eficiência dos processos industriais.
3. Robótica e Cobots
A robótica na Indústria 5.0 não se limita apenas à automação de tarefas repetitivas. Os cobots, ou robôs colaborativos, trabalham lado a lado com os trabalhadores, ajudando em tarefas complexas que exigem precisão e força. Estes robôs são projetados para serem seguros e intuitivos, permitindo uma integração perfeita com os trabalhadores.
4. Realidade Aumentada (AR) e Realidade Virtual (VR)
A AR e a VR são usadas para formação, manutenção e design. A realidade aumentada oferece aos trabalhadores informações contextuais e em tempo real diretamente no seu campo de visão, facilitando a execução de tarefas complexas. A realidade virtual, por sua vez, é utilizada para simular ambientes de produção, permitindo o teste de novas linhas de produção ou a formação dos trabalhadores sem interromper as operações.
5. Blockchain
O blockchain oferece um nível adicional de segurança e transparência nas operações industriais. É usado para rastrear a cadeia de fornecimentos, garantir a autenticidade dos produtos e facilitar transações seguras. Na Indústria 5.0, o blockchain pode ajudar a criar uma cadeia de valor mais confiável e eficiente.
Conscientes da relevância que as problemáticas da Indústria 5.0 (com particular enfoque nas pessoas) e da atualização constante dos conhecimentos / competências, assumem na atualidade, os autores do presente artigo dinamizaram a organização e publicação (entre outros) dos livros Indústria 5.0: Pessoas, Tecnologia e Sustentabilidade, e Resiliência e Inteligência Emocional, publicados pela Actual Editora com a chancela do grupo Almedina, os quais contam com um amplo conjunto de contributos proporcionados por diferentes professores / investigadores portugueses.
Se, relativamente ao primeiro livro, se pretende realçar a problemática da Indústria 5.0 com um particular destaque para a vertente da Pessoas, Tecnologia e Sustentabilidade; o segundo livro acima referido, e antecipando, de algum modo, o paradigma de disrupção que a indústria 5.0 tem vindo a impulsionar na atualidade, coloca maior ênfase na problemática da Resiliência, sem dúvida, também ela considerada como um dos pilares fundamentais da Indústria 5.0. Efetivamente, e tal como referido no prefácio deste livro, “A Resiliência respeita à capacidade de os indivíduos lidarem com os problemas, adaptarem-se à mudança, ultrapassarem obstáculos e/ou resistir à pressão resultantes das mais diversas situações, ao mesmo tempo que procuram superar as adversidades.”
Orientados para uma pluralidade de públicos – gestores, engenheiros, académicos, investigadores, bem como outros profissionais e público em geral -, com interesse nestas matérias, estes livros procuram dar um enfoque muito particular para a dinâmica subjacente à Indústria 5.0, nos seus diferentes pilares, como sejam, as Pessoas, Tecnologia, Sustentabilidade e Resiliência, na qual as pessoas e as máquinas interagem positivamente a fim de alcançarem um mundo mais resiliente e sustentável.
A sustentabilidade é um pilar essencial da Indústria 5.0. As tecnologias avançadas são implementadas para reduzir o impacto ambiental e promover práticas industriais mais responsáveis. A otimização do uso de recursos, a redução de desperdícios e a implementação de processos circulares são algumas das estratégias adotadas. A energia renovável e a gestão inteligente de recursos também são integradas aos sistemas de produção, visando uma pegada ecológica menor.
1. Economia Circular
A Indústria 5.0 promove a economia circular, onde os resíduos são minimizados e os recursos são reutilizados e reciclados sempre que possível. Esta abordagem não só reduz o impacto ambiental, mas também pode resultar em economias significativas para as empresas.
2. Eficiência Energética
Tecnologias como a IoT e a IA são utilizadas para monitorizar e otimizar o consumo de energia. Os sistemas inteligentes ajustam automaticamente os processos para consumir menos energia, contribuindo para a sustentabilidade e redução de custos operacionais.
3. Produção Localizada
A produção mais próxima do consumidor final, facilitada por tecnologias como a impressão 3D, reduz a necessidade de transporte e, consequentemente, as emissões de carbono. Tal potencial contribui para uma resposta mais rápida às mudanças na procura do mercado.
A Indústria 5.0 representa uma harmoniosa integração entre tecnologia avançada, colaboração humana e sustentabilidade. As inovações que se têm vindo a processar no campo tecnológico, como é o caso das inovações ao nível da IA, IoT, robótica, AR/VR e blockchain estão a moldar um futuro industrial mais eficiente, personalizado e ambientalmente responsável. A combinação dessas tecnologias com um foco renovado nas pessoas e no meio ambiente promete transformar a forma como produzimos e consumimos, criando uma economia mais resiliente e sustentável.
Referências
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Machado, C. F. e Davim, J. P. (2024). Indústria 5.0 – Pessoas, Tecnologia e Sustentabilidade. INGENIUM, II Série, Nº 184, abril/maio/junho 2024, pp. 44-46. https://www.ordemengenheiros.pt/pt/centro-de-informacao/publicacoes/revista-ingenium/ingenium-n-184-abril-maio-junho-2024/
Machado, C. e Davim, J. P. (Coords.) (2023). Indústria 5.0: Pessoas, Tecnologia e Sustentabilidade. Actual Editora / Grupo Almedina: Coimbra. https://www.almedina.net/industria-50-pessoas-tecnologia-e-sustentabilidade-1696042898.html
Machado, C. e Davim, J. P. (Coords.) (2023). MBA para Gestores e Engenheiros. (2ª Edição, atualizada e alargada). Editora Sílabo: Lisboa. https://silabo.pt/catalogo/gestao-organizacional/teorias-de-gestao/livro/mba-para-gestores-e-engenheiros/
Machado, C. and Davim, J. P. (Eds.) (2023). Industry 5.0: Creative and Innovative Organizations. Springer: London, UK. https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-031-26232-6
Machado, C. and Davim, J. P. (Eds.) (2023). Management for Digital Transformation. Springer: Heidelberg, Germany. https://link.springer.com/book/10.1007/978-3-031-42060-3
Machado, C. and Davim, J. P. (Eds.) (2023). Managerial Challenges of Industry 4.0. EDP Sciences: Les Ulis, France. https://laboutique.edpsciences.fr/produit/1332/9782759826285/managerial-challenges-of-industry-4-0
Machado, C. and Davim, J. P. (Eds.) (2020). Industry 4.0: Challenges, Trends, and Solutions in Management and Engineering, Taylor and Francis Group/CRC Press: Boca Raton, USA. https://www.routledge.com/Industry-40-Challenges-Trends-and-Solutions-in-Management-and-Engineering/Machado-Davim/p/book/9780815354406
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Machado, C. e Davim, J. Paulo (Coords.) (2019). Organização e Políticas Empresariais. Actual Editora / Grupo Almedina: Coimbra. https://www.almedina.net/organiza-o-e-pol-ticas-empresariais-1569354331.html
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