Entrevista a Paulo Sousa, responsável comercial de robótica da Fanuc em Portugal
Mais do que um fabricante de robôs, controladores numéricos ou centros de maquinação, a Fanuc é, hoje, reconhecida como um fornecedor global de soluções de automação industrial. Nesta entrevista, Paulo Sousa, responsável comercial de robótica da Fanuc em Portugal, explica-nos o sucesso da marca japonesa, avalia os impactos da pandemia na atividade da filial portuguesa e conta-nos como está a evoluir a implementação de cobots no mercado nacional. Explica-nos ainda como pode a robótica colaborativa ajudar a indústria a sair da crise e dá-nos a sua visão de como vai evoluir o mercado da automação industrial nos próximos tempos.
Paulo Sousa é responsável comercial pela área da robótica da filial da Fanuc em Portugal desde 2016.
De facto, desde 1956, ano em que desenvolveu o primeiro controlador numérico (NC), a Fanuc é um dos líderes mundiais na área da automação industrial e pioneira no fabrico de CNC, robôs e máquinas de produção (Robodrill, Robocut, Roboshot e Robonano).
Em relação às máquinas, o centro de maquinação Fanuc Robodrill, a primeira máquina desenvolvida pela Fanuc em 1972, foi criado com o objetivo de ser uma montra do que a Fanuc poderia oferecer ao nível do controlo numérico, servomotores e reguladores, aplicando toda a tecnologia numa estrutura mecânica compacta de excelente design, para atrair os fabricantes de máquinas e assim conseguir introduzir equipamentos Fanuc nos seus equipamentos.
Graças à qualidade de produção e ao seu desempenho, a Fanuc Robodrill começou a ser introduzida em clientes que se dedicavam à maquinação, e, com o passar do tempo, chegou a grandes empresas que exigiam elevados volumes de produção em curtos tempos de ciclo.
Além desta máquina, a Fanuc desenvolveu, fabricou e começou a comercializar outras máquinas como a máquina de corte por eletroerosão a fio Fanuc Robocut, a máquina de injeção de plástico Fanuc Roboshot e a máquina de ultra precisão Fanuc Robonano, aumentando significativamente a sua presença no mercado nos últimos anos.
Em relação aos robôs, esta aposta começou em 1974 com o desenvolvimento e instalação dos primeiros robôs industriais e servomotores DC no Japão e respetiva implementação nas fábricas da Fanuc.
O fator chave do sucesso, capaz de distinguir e diferenciar a Fanuc num mercado global altamente competitivo, é o enfoque no cliente e a aposta na excelência técnica, nas tecnologias avançadas, nos recursos humanos altamente qualificados, na inovação, e na qualidade dos seus produtos e serviços. Vivemos num período em que o serviço técnico qualificado é primordial para as empresas, e é esse o nosso papel em Portugal, apoiar os nossos clientes, e ajudá-los no seu crescimento. No nosso sector, essa evolução tem sido muito clara, sendo visível o investimento das empresas em novas tecnologias e procura de maior rentabilidade impulsionadas pela era da digitalização/industria 4.0 em que nos encontramos.
Com mais de 7.000 trabalhadores em todo o mundo, a Fanuc oferece uma rede global de vendas, suporte técnico, investigação e desenvolvimento, logística e serviço ao cliente para diversas áreas como a indústria automóvel e seus componentes, indústria dos moldes, injeção de plástico, alimentar, farmacêutica, aeronáutica, etc.
A forte aposta na automatização das linhas de produção das nossas fábricas, assim como na investigação e desenvolvimento, faz com que a Fanuc tenha neste momento uma capacidade de produção inigualável o que permite a concretização de alguns dos negócios mais importantes a nível mundial, nos quais a Fanuc foi a único fabricante a cumprir com as especificações e os prazos de entrega exigidos pelo cliente.
No que à robótica diz respeito, e a título de curiosidade, temos atualmente capacidade de fabricar 11.000 robôs por mês o que nos coloca como o fabricante com maior capacidade de produção a nível mundial no sector.
Outras das principais características da Fanuc, e algo pela qual é também reconhecida pelos nossos clientes, é a fiabilidade dos nossos produtos, garantida pelo fabrico interno da maioria dos componentes e que conferem aos nossos equipamentos na área da robótica um MTBF (Mean Time Between Failure) de mais de 20 anos. Adicionalmente a Fanuc confere uma garantia de peças de substituição vitalícia, ou seja, o equipamento estará a trabalhar até quando o cliente assim o desejar.
Uma aposta ganha e de sucesso garantido para o futuro. A aposta em Portugal surgiu inicialmente em 2014, altura em que tínhamos um escritório com duas pessoas vocacionadas para as máquinas de ferramentas e CNC. Posteriormente, em abril de 2016, data em que foi inaugurada a nova sede portuguesa em Vila do Conde, começámos a recrutar pessoal especializado (maioritariamente com qualificações académicas na área da engenharia) para as diferentes divisões (CNC, máquinas e robôs) permitindo um acompanhamento mais especializado em função das necessidades do cliente e uma melhor capacidade de resposta ao nível técnico-comercial.
No nosso ponto de vista, acreditamos que Portugal tem ainda um grande potencial de desenvolvimento de negócio e de automatização/robotização, pelo que, tendo umas bases fortes podemos encarar o futuro com a certeza de que temos as condições necessárias para responder às exigências dos nossos clientes.
O mercado das máquinas-ferramentas sofreu uma desaceleração significativa, tal como muitos outros setores, uma vez que, por um lado, estava a decorrer uma transformação no setor automóvel, através da implementação de veículos elétricos em substituição dos motores de combustão agora ‘discriminados’ e, além disso, juntou-se a pandemia que desde março passado deixou sectores como a aeronáutica numa situação complicada.
Em suma, a pandemia afeta diretamente este setor, uma vez que os investimentos necessários à compra de equipamentos são consideráveis, e a incerteza gerada pela situação atual a nível sanitário e as suas consequências na diminuição do consumo em geral não ajudam as empresas a sentirem-se confiantes para apostar na compra de novos equipamentos.
Existem, no entanto, bons indicadores provenientes de setores que poderão rapidamente recuperar, como a robótica, pois as empresas necessitam urgentemente de encontrar uma alternativa eficiente para assegurar a produção e funcionamento das mesmas.
A crise pandémica obrigou as empresas a apostar num processo de produção flexível e eficiente, rapidamente adaptável às necessidades do mercado, o que anteriormente já era uma tendência. E torna-se evidente que a automatização desempenhará um papel fundamental para a flexibilização produtiva de empresas dos mais variados ramos e sectores.
Em relação à chamada 4ª revolução industrial ou IIoT, como a conhecemos de uma forma mais comum, está cada vez mais integrada em toda a indústria, e introduziu novos conceitos nas nossas fábricas: fábricas inteligentes totalmente conectadas, informação em tempo real dos nossos processos o que permite melhorias importantes nos processos.
No caso da Fanuc, dispomos de vários softwares com essa finalidade, como o MT-LINKi, que está focado na monitorização de qualquer tipo de maquinaria que tenha um protocolo de comunicação OPC/UA localizado em diferentes pontos geográficos com qualquer terminal com acesso à Internet.
Por outro lado, a Fanuc apresentou uma plataforma chamada ‘Field’ que, além de ter as funcionalidades mencionadas anteriormente com o MT-LINKi, permite trabalhar de outras formas sobre os dados recolhidos.
É também importante destacar que, dentro da plataforma Field, é possível utilizar outras aplicações desenvolvidas pela Fanuc e/ou outras empresas, o que contribuirá para que os nossos produtos estejam em constante evolução.
Quando falamos em robótica colaborativa gostaria de destacar que as soluções de cobots Fanuc se encaixam num ramo específico da robótica colaborativa, a robótica colaborativa industrial, uma vez que estes se baseiam nas unidades mecânicas dos robôs convencionais e foram testados durante anos, garantindo aos usuários uma elevada fiabilidade e um serviço técnico rápido e efetivo.
Temos efetivamente, no nosso portefólio, robôs com capacidade de carga (payload) que vão desde os 4Kg e alcance de 550mm até aos 35Kg com um alcance de 1813mm.
Mais recentemente lançamos uma novidade na área dos robôs colaborativos industriais, o CRX, que apresenta um conceito novo em comparação com a gama CR existente. É um robô mais leve, de fácil instalação e programação, com uma interface bastante intuitiva através de um tablet e adequada a utilizadores com pouca experiência em programação. O CRX está disponível em duas versões: braço curto com alcance de 1249mm e braço longo com 1418mm ambos com payload de 10Kg.
Não esquecer de referir que, para uma aplicação ser colaborativa, não basta que o robô o seja, tudo terá de respeitar as normas, desde o robô à peça a manipular, ao gripper, etc.
Existe um grande potencial de crescimento não só nos cobots, mas no setor da robótica em geral, já que, através da robotização, as empresas podem ambicionar alcançar competitividade a nível internacional.
Nos apelidados de robôs modernos, uma das principais funcionalidades é a facilidade de utilização e é aí que os cobots se inserem, principalmente para facilitarem processos que até então seriam complicados, trabalhando lado a lado com o operário, efetuando trabalhos que para este seriam mais pesados, ou apenas ajudando-o.
O mercado Português tem tido um nível de aceitação elevado em relação aos cobots e existem já diversos ‘players’ a comercializá-los. No entanto, devemos ter consciência de que estes podem não ser a melhor solução para todo o tipo de aplicações. É fulcral um aconselhamento e acompanhamento técnico especializado. Por muito económico que um equipamento possa ser, se o mesmo não estiver em funcionamento e a contribuir para o aumento de produtividade, irá significar perdas para a empresa e um investimento desperdiçado.
Analisando as características mais importantes de um robô colaborativo industrial e que condicionam a utilização de um cobot numa linha de produção é possível enumerar as seguintes:
• Facilidade de Integração
Em geral, os cobots ocupam menos espaço na fábrica em comparação com os robôs industriais tradicionais, são fáceis de utilizar e de programar e requerem uma curva de aprendizagem mínima para os utilizadores finais.
• Flexibilidade
As pessoas são o recurso com maior flexibilidade no processo produtivo e os cobots podem criar sinergias com os operários libertando-as assim de tarefas perigosas e/ou repetitivas.
Ao aproveitar as mais valias do operário, como a flexibilidade ou a capacidade de resolução de incidentes, e as mais valias oferecidas pela robótica como a precisão, a repetibilidade ou a capacidade de trabalho 24/7, é possível apostar num processo de fabricação modular e flexível.
• Segurança
A segurança das pessoas é uma das prioridades da robótica colaborativa industrial, os cobots são projetados para operar com segurança ao lado das pessoas e sem a necessidade de cercas de segurança. Alguns fabricantes de robôs oferecem também funcionalidades de segurança adicionais.
• Poupança de espaço de trabalho
Graças ao sistema de segurança, os cobots podem trabalhar lado a lado com as pessoas, quando alguém toca no robô este para de forma a evitar qualquer acidente. Assim, as áreas de segurança, que até ao momento eram delimitadas por barreiras de segurança, são eliminadas e as fábricas podem minimizar o espaço utilizado.
• Retenção dos colaboradores e aumento do nível de satisfação
Os cobots são projetados para trabalhar com as pessoas, não para as substituir. Consideramos que são uma ferramenta capaz de aumentar a eficiência e a eficácia da produção tendo como base o trabalho partilhado entre o operário e o robô.
Este tipo de robôs, devido às características e vantagens que apresenta, pode ser utilizado em inúmeras tarefas quotidianas em qualquer fábrica, tornando-se uma parte indispensável da força de trabalho e, ao mesmo tempo, pode ajudar a evitar o contacto direto entre as pessoas, contribuindo assim também na luta contra o vírus.
Em primeiro lugar, e devido à expectável crise económica e financeira que se aproxima, não tendo a maior parte das empresas capital disponível para investir, o principal desafio será conseguir justificar o investimento com um ‘payback’ que seja admissível. Normalmente as empresas esperam por um retorno do investimento ou amortização de um a dois anos o que poderá inviabilizar o investimento.
Para além disso, fatores como a simplificação dos processos de integração entre os robôs e CNC/Máquinas, minimização dos tempos de inatividade, segurança, facilidade de utilização, serão fatores tidos em maior consideração.
A robótica não deverá ser vista como o futuro, mas sim como o presente!
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