O nome Simoldes é uma das principais bandeiras nacionais quando se fala de produção de moldes e plásticos, a nível global. Com 60 anos de atividade completados no ano passado e 32 empresas espalhadas pelo globo, a empresa de Oliveira de Azeméis, criada inicialmente por António Rodrigues para fabricar moldes para brinquedos, mantem o cariz familiar e aposta na inovação para fazer face aos desafios do setor. Nesta entrevista, Rui Paulo Rodrigues, Vice-Presidente do Grupo, conta-nos como é que a Simoldes viveu, e está a viver, a crise provocada pela pandemia de Covid-19 e explica-nos o que está a acontecer no setor automóvel, um dos principais clientes dos fabricantes de moldes e plásticos nacionais.
Rui Paulo Rodrigues, Vice-Presidente do Grupo Simoldes.
A atual pandemia tem vindo a afetar de forma muito relevante o Grupo Simoldes. Desde logo, ao nível do chão de fábrica, porque tivemos de instituir vários novos processos e rotinas para garantirmos a proteção e distanciamento entre colaboradores, incluindo a definição e implementação de novos turnos de trabalho. Na parte administrativa, os colaboradores foram convidados a recorrer ao teletrabalho.
Por outro lado, é preciso não esquecer que alguns clientes OEM pararam a sua atividade, o que nos obrigou a parar as nossas fábricas da divisão de plásticos, a nível doméstico e internacional, durante algum tempo. Após esse período de paragem, a divisão de plásticos recuperou muito bem, com um aumento rápido e forte da cadência de produção, que se mantem.
Nos moldes, por causa do clima de incerteza que os nossos clientes estão a viver, a colocação de novas encomendas tem vindo a sofrer vários adiamentos e a situação está agora bastante mais difícil. No entanto, até à data, nenhuma das nossas fábricas de moldes parou a sua atividade.
Em plena reorganização de horários e de produção, começámos a fazer viseiras para oferta, contando com o contributo integrado das nossas divisões de moldes e plásticos. Podíamos estar a trabalhar em ventiladores, e até fomos contactados nesse sentido, mas sabemos que não temos conhecimento interno nessa área e tudo seria naturalmente muito mais lento. Assim, ficámos pelas viseiras e, com este passo, esperamos ter dado um pequeno contributo para que o país acabe por precisar de menos ventiladores.
Um dos indicadores da urgência colocada no projeto foi o desenvolvimento do molde em tempo recorde, com o envolvimento de todos a garantir a conclusão numa semana de uma fase do processo que, em condições normais, poderia ter demorado dois meses.
Entretanto, estamos também a desenvolver uma máscara em parceria com elementos do MIT. Este projeto surge através de um colaborador nosso que, durante a fase de quarentena, participou numa plataforma online, onde pessoas de vários continentes colaboram no esforço de combate à Covid-19.
Viseira produzida pela Simoldes no início da pandemia.
Estamos a implementar medidas que passam pela otimização muito significativa de processos, eficiência e produtividade, redução de custos fixos e variáveis, reforço significativo das ações e iniciativas comerciais, congelamento de investimentos, assim como adesão a algumas medidas de apoio à indústria promovidas pelo Estado.
Não obstante a nossa elevada especialização e exposição estratégica à indústria automóvel, o certo é que os nossos moldes e componentes podem servir, e servem, vários outros mercados como o da embalagem, construção, houseware, aeronáutica, energia, entre outros.
É natural que, entretanto, venham a surgir importantes oportunidades de negócio nestes mercados, de forma a compensar, ou até mais que compensar, as quebras. Por outro lado, continuam a existir oportunidades muito interessantes, de elevado valor acrescentado e assentes em competências distintivas, no setor automóvel, em segmentos como, por exemplo, a luminária.
Significa que temos que aceitar, antecipar e gerir essas tendências. E é exatamente isso que um fornecedor global de moldes, peças plásticas e serviços de engenharia e design industrial, como é o Grupo Simoldes, faz e continuará a fazer.
Exemplo disso mesmo é a nossa aposta em aspetos como a conceção e desenvolvimento de novos moldes, que permitam reduzir os ciclos de injeção e as taxas de desperdício de peças e de plástico, o desenvolvimento de novos materiais, incluindo bioplásticos e nanopartículas, a otimização de processos ou o reforço sustentado da eficiência produtiva e energética, com recurso ao paradigma 4.0 e à digitalização.
Por outro lado, estamos envolvidos em diversos projetos, em articulação com reputadas entidades nacionais e internacionais do Sistema Científico e Tecnológico (SCT), cujo objetivo é desenvolver peças plásticas mais leves, que permitam uma redução efetiva do consumo de combustíveis e das emissões de CO2 associadas. Dou-lhe o exemplo de um projeto muito interessante que pretende facilitar a utilização de painéis fotovoltaicos mais leves em áreas diversificadas de forte incidência solar num automóvel, garantindo assim o autoconsumo.
Simultaneamente, temos vindo a investir no fabrico aditivo de componentes moldantes e de peças específicas com elevada componente de design, a enquadrar no interior dos automóveis, e que, articuladas com o desenvolvimento de sistemas inteligentes, permitem novas experiências e interfaces na relação entre o utilizador e o automóvel (HMI).
Sim, o mercado automóvel é cada vez mais exigente e rigoroso. Os critérios de qualidade, fiabilidade, eficiência, produtividade, resistência, design e customização que impõe são muito elevados. Tudo isto motivado pela apertada legislação regulamentar a nível europeu e mundial, que impõe uma redução significativa das emissões de CO2, em muitos casos com objetivos perfeitamente definidos até 2030.
É neste contexto que nasce o projeto de I&D ‘NANO-SIM 3D’, liderado pela Simoldes Aços, em co-promoção com a Simoldes Plásticos e a Universidade de Aveiro, e a correspondente aposta na área da sinterização e da produção aditiva, que procura dar resposta cabal e rigorosa a estes desafios, posicionando-se para alcançar quatro objetivos bem definidos:
O laboratório está disponível para outras empresas?
Não, está disponível apenas para as empresas do grupo.
Destaco os investimentos efetuados no centro de fresagem e no centro de ensaios, bem como vários investimentos na área da inovação produtiva em diferentes empresas das divisões de plásticos e moldes.
Simultaneamente, investimos tempo e recursos em projetos de I&D em co-promoção com entidades do SCT nacional e internacional, envolvendo empresas das duas divisões, quer nas áreas do 4.0 e digitalização, quer na fabricação aditiva e em novas formas de conceção e desenvolvimento de moldes, da eficiência energética e das energias renováveis ao nível da sua aplicação nos novos automóveis.
Gostaria de salientar ainda os investimentos mais recentes na área do marketing e comunicação do Grupo, para os seus diferentes públicos alvo (corporativo, sociedade, clientes e colaboradores), entre outros projetos e iniciativas.
A Simoldes tem em curso algumas iniciativas e projetos de transformação digital, tanto na área dos processos como da produção. Destaco o projeto de grande alcance que vamos lançar em breve e que envolve a digitalização de todas as nossas fábricas na divisão de plásticos e o respetivo sistema de informação de apoio à gestão. É um projeto extremamente ambicioso que vai determinar avanços muito significativos em matéria de análise avançada de dados, operações remotas, sensores avançados, máquinas inteligentes, inteligência artificial e algoritmos preditivos, produção aditiva, robotização, para mencionar apenas algumas das tecnologias core que irão ser implementadas.
Destaque também para o projeto Simoldes 4.0, de I&DT, promovido pela divisão de moldes e apoiado pelo Portugal 2020, que está, neste momento, em fase de conclusão. Trata-se de um projeto disruptivo na área da sensorização de moldes, que vai permitir que, em qualquer momento e em qualquer local, um colaborador interno ou um cliente possam conhecer o estádio de desenvolvimento de um molde, detetar desvios e tomar decisões rápidas e efetivas que permitam a sua correção.
A UE quer incentivar a indústria a tornar-se mais ecológica. A Simoldes desenvolveu ou tem projetos para tornar a sua atividade ambientalmente mais sustentável?
A Simoldes tem vindo a desenvolver vários projetos de I&D e inovação que vão ao encontro, precisamente, da preservação do desiderato da sustentabilidade ambiental, designadamente com a conceção e desenvolvimento de novos moldes que permitem reduzir os ciclos de injeção e as taxas de desperdício de peças e de plástico, o desenvolvimento de novos materiais, incluindo bioplásticos e nanopartículas, a otimização de processos e o reforço sustentado da eficiência produtiva e energética, com recurso também ao paradigma 4.0 e da digitalização, a utilização de energias renováveis para autoconsumo, a produção de peças mais leves, indutoras da redução do consumo de combustíveis e do nível de emissões de CO2 nos automóveis, a utilização de painéis fotovoltaicos mais leves em áreas diversificadas de forte incidência solar num automóvel, permitindo o seu efetivo autoconsumo e reduzindo o seu consumo de combustíveis e a concomitante emissão de CO2, e com o desenvolvimento de veículos com motorização elétrica e a hidrogénio, em articulação com reputadas entidades, domésticas e internacionais, do Sistema Científico e Tecnológico.
Creio que o que mais nos caracteriza no panorama internacional é a confiança e as relações comerciais de longo prazo que estabelecemos com os nossos parceiros e clientes. Estamos muito focados em entender e antecipar as necessidades do cliente e esforçamo-nos por apresentar soluções integradas do tipo ‘one-stop shop’, que vão desde o design, desenvolvimento e expertise, passando pela fabricação até ao serviço pós-venda, incluindo a manutenção e retificação de moldes.
O reconhecimento que temos tido no mercado decorre, por um lado, desse posicionamento alargado na cadeia de valor, mas também da nossa presença global e da excelente relação qualidade/flexibilidade/prazo/preço que oferecemos. A tudo isso acresce, claro, a nossa capacidade de engenharia e desenvolvimento, e as competências e know-how do nosso capital humano.
Claro que sim. Os fabricantes chineses, para além de vantagens importantes em matéria de custos de produção e dimensão/escala, contam hoje com tecnologia de ponta que lhes permite competir, já não apenas com preços baixos, mas também com qualidade de produção e prazos de entrega apertados. São concorrentes que nos desafiam cada vez mais e que nos obrigam a aprimorar os fatores competitivos que nos distinguem.
Às tendências ‘pesadas’ que enquadram o desenvolvimento futuro da indústria automóvel, relacionadas com a mobilidade elétrica e a hidrogénio, com o carro partilhado e autónomo, com a introdução maciça de TIC e digitalização do interior dos automóveis, configurando-os como novos espaços de conforto, lazer e entretenimento, com a emergência nesta indústria de novos players tecnológicos e de outras indústrias (que vão fazer enorme pressão sobre fornecedores tradicionais), entre outras, somam-se os efeitos das previsíveis quebras na procura global de automóveis, enquanto bens que não são de primeira necessidade.
A estes fatores de incerteza juntam-se, ainda, o crescente arrefecimento das relações internacionais e as ameaças de políticas protecionistas, de vária ordem, em muitos pontos do globo. Em resultado, é natural que a globalização arrefeça um pouco.
Nesse caso, o Grupo Simoldes tem que estar preparado para antecipar esta evolução e para aproveitar as oportunidades de negócio e de mercado que daqui possam surgir, designadamente em função de uma certa reindustrialização da Europa e, necessariamente, de Portugal.
O mercado automóvel é cada vez mais exigente e rigoroso, motivado pela apertada legislação regulamentar, que impõe uma redução significativa das emissões de CO2.
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