55 DIGITALIZAÇÃO E INDÚSTRIA 4.0 Para o setor metalúrgico e metalomecânico nacional, a digitalização deixou de ser uma tendência para se tornar num verdadeiro imperativo. “É a base da estratégia de desenvolvimento de todas as empresas do setor, que procuram ser mais inovadoras e mais competitivas”, afirma Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP). Este movimento, diz o responsável, está a transformar os processos produtivos, a gestão da qualidade, os modelos de decisão e até a relação comercial com os clientes. Num momento em que a Inteligência Artificial (IA) ganha protagonismo, o dirigente da AIMMAP sublinha que esta tecnologia se tem afirmado como “uma das principais ferramentas para a indústria”, não apenas pela introdução de novos serviços, mas também enquanto tecnologia habilitadora para “infraestruturas de automação capazes de aumentar a produtividade, a qualidade e a segurança dos modelos de organização produtiva”. Apesar da escassez de dados estatísticos específicos sobre a digitalização – e em particular sobre a aplicação de IA – Rafael Campos Pereira lembra que o setor metalúrgico e metalomecânico português se destaca na vanguarda da inovação tecnológica. “É o setor que mais investe em I&DT, com um número expressivo de empresas envolvidas nessas atividades e uma forte componente de desenvolvimento experimental”. Este investimento tem impacto direto na produtividade, “acima da média da restante indústria transformadora e da média nacional”. Contudo, a transição digital enfrenta obstáculos. A começar pela resistência à mudança organizacional, seguida da necessidade de “investimentos consideráveis”, numa altura em que nem sempre o sistema financeiro ou os mecanismos de apoio estão sensibilizados para esta prioridade estratégica. Acresce ainda a escassez de mão de obra qualificada, num contexto em que a retenção de talento e a requalificação profissional são essenciais. “É fundamental que as pessoas, independentemente da idade, estejam disponíveis para processos de requalificação, que lhes darão acesso a funções mais apelativas e com melhor remuneração”, refere o responsável. Outro dos desafios prende-se com a cibersegurança. “Os processos de digitalização envolvem uma enorme quantidade de dados, continuamente gerados, processados e analisados. Os volumes de dados em ambientes de produção são a base na qual sistemas inteiros são gerados”, explica Rafael Campos Pereira, alertando para a relevância deste tema em contextos com cláusulas de confidencialidade. A AIMMAP tem vindo a atuar em várias frentes para acelerar esta transformação. Desde ações de sensibilização e formação até ao envolvimento em programas como o Emprego+Digital – via CENFIM – a associação procura fomentar a qualificação dos trabalhadores e dotar as empresas de ferramentas concretas. “A App Metal Portugal, a ferramenta do Clube de Subcontratação ou as plataformas Pegada Metal e Roteiro Metal são exemplos práticos deste apoio”. Por fim, os casos práticos multiplicam- -se: desde a digitalização dos processos produtivos à modernização de bens de equipamento, passando pela otimização da eficiência energética, controlo de qualidade ou gestão de custos. “Em subsetores mais afetados pela subida dos fatores de produção, a digitalização tem permitido implementar estratégias muito eficientes de controlo”, conclui Rafael Campos Pereira. INEGI: dados, algoritmos e sensorização ao serviço da eficiência A digitalização da indústria exige uma abordagem estruturada, estratégica e focada em resultados concretos. É nesta lógica que o Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) tem vindo a apoiar o setor metalomecânico, em particular no estudo de viabilidade e implementação de tecnologias digitais com ganhos comprovados em eficiência e qualidade operacional. “Temos vindo a contribuir para áreas críticas da digitalização, nomeadamente na visualização inteligente de dados e no desenvolvimento de algoritmos para monitorização e otimização dos processos”, explica Ricardo J. Carvalho, engenheiro da instituição.
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