BM19 - InterMetal

ENTREVISTA 13 Indicadores como os sucessivos recordes de exportações espelham a notável evolução do setor metalúrgico e metalomecânico nos últimos anos. Que fatores contribuíram para este crescimento? Este crescimento está assente em estratégias delineadas pelas empresas, com o apoio da AIMMAP e de várias entidades de suporte, no sentido de apostarem cada vez mais na diferenciação. Falamos não apenas do investimento em tecnologia, que também é importante, mas da aposta em certificação, propriedade industrial, design, comunicação, marca, entre outros. Manifestamente, nos últimos anos assistimos a uma mudança de paradigma, com muitas empresas a deixarem de competir com base em preço e a apostarem na qualidade, com claros ganhos de valor acrescentado. Por outro lado, as empresas nacionais têm algumas características que foram determinantes neste processo, desde a versatilidade e capacidade de dar resposta a pequenas séries e a mercados de nicho à especialização e capacidade de adaptação das estruturas. Todos estes fatores, aliados ao investimento em tecnologia e a fatores funcionais, como a formação profissional e a qualificação dos nossos ativos, comportaram um investimento notável e contribuíram para o crescimento exponencial do setor na última década, com muitas empresas a mais que duplicarem as suas exportações. No caso do investimento em tecnologia, o Portugal 2020 foi determinante? Sim, é verdade houve algum suporte por parte desse programa. Mas devo dizer que, apesar de tudo, sendo certo que em Portugal há um grande problema de capitalização das empresas, os índices de capitalização do setor metalúrgico e metalomecânico são muito superiores à média nacional. Aliás, estudos feitos pelo Banco de Portugal indicam que, a esse nível, comparamos muito bem com a indústria metalúrgica e metalomecânica alemã. Isso também contribuiu para que se pudessem fazer esses investimentos. Mas, sim, claro que também recorremos aos programas de apoio e estamos, naturalmente, expectantes em relação ao Portugal 2030, com os atrasos que já se perspetivam e que nos preocupam, tal como também nos inquietam os constrangimentos e alguma indefinição no PRR. Qual é a sua primeira reação ao Plano Anual de Avisos do Portugal 2030, publicado há poucas semanas? A primeira reação é que os projetos de internacionalização individuais continuam a ser empurrados para a frente. Desde 2019 que não há projetos de internacionalização para as empresas e essa é uma opção política que lamentamos, já que nos coloca em posição de desvantagem face à concorrência europeia. As empresas italianas, espanholas, polacas ou eslovenas recorrem aos instrumentos que os fundos europeus lhes proporcionam para incrementarem a sua presença nos outros mercados (europeus e não só). Eu costumo dizer às nossas empresas que temos que contar connosco mesmos. Mas, se há fundos para alavancarem e potenciarem a convergência europeia, devem ser canalizados para os agentes da economia, ou seja, para as empresas. Como se caracteriza atualmente o setor? O setor metalúrgico e metalomecânico português é constituído por cerca de 22 mil empresas, a grande maioria microempresas. No fundo, reflexo da realidade portuguesa, cujo tecido empresarial é composto por muitas microempresas, algumas pequenas, poucas médias e pouquíssimas grandes empresas. Temos, talvez, mais grandes empresas que a média nacional. Em números gerais, o setor emprega atualmente cerca de 250 mil pessoas. Em 2022 exportou 23 mil milhões de euros e, em 2021, contabilizou um volume de negócios de 34 mil milhões de euros (ainda não temos números do ano passado), com um valor acrescentado bruto na ordem dos nove mil milhões de euros. Qual é o grau de digitalização destas empresas? Neste momento, não é possível saber exatamente qual é o grau de digitalização do setor. No entanto, empiricamente, sabemos que é uma realidade crescente. Vemos muitas empresas a realizar investimentos importantes nesta área e acreditamos que o PRR e as Agendas Mobilizadoras podem ter um papel importante para, nos próximos anos, nos aproximarmos dos níveis dos países do Norte da Europa. Para ajudar as empresas nesse caminho, estamos fortemente envolvidos com o Produtech, e com diversas empresas do setor, num projeto liderado pela Colep que tem como objetivo, precisamente, impulsionar a digitalização do setor metalúrgico e metalomecânico a partir das tecnologias de produção, mas que poderá beneficiar todos os outros setores utilizadores. Além disso, o Catim, o nosso centro tecnológico, também participa ativamente em iniciativas com o mesmo objetivo. Adicionalmente, mantemos uma estreita relação com o INEGI, do qual fomos sócios-fundadores, e com o INESC TEC, ambos muito envolvidos em projetos desta natureza, cujos resultados disseminamos junto dos associados da AIMMAP. Quais são os principais mercados destino das exportações nacionais de metalurgia e metalomecânica? Espanha, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Estados Unidos, por esta ordem.

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx